sábado, 17 de janeiro de 2009

Seu filho vai para a escola só para brincar?

"SEU FILHO VAI PARA A ESCOLA SÓ PARA BRINCAR ?!"

Regina Célia de Souza *

Esta pergunta já andou pela cabeça de muitos pais, principalmente daqueles que tem filhos em escolas particulares nas chamadas turmas de maternal e jardim.
Imagina ! Pagar uma mensalidde cara só para o filho brincar na escola !
Mas hoje, com a evolução dos estudos psicológicos e educacionais sobre o desenvolvimento infantil, descobre-se como este brincar , aparentemente sem maiores compromissos e tão desvalorizado pelos adultos é fundamental para a construção do pensamento e do conhecimento pela criança e mais especificamente para aquisição da leitura, da escrita e do raciocínio lógico-matemático.
Psicólogos famosos como o suíço Jean Piaget e o russo Lev Vygotsky são dois dos estudiosos responsáveis por esta RE - VISÃO sobre o brincar.
A primeira relação que a criança estabelece com o brinquedo, na idade aproximada de 0 a 2 anos, é baseada na sua percepção do objeto, sobretudo na percepção visual. Ao longo de seu desenvolvimento, neste período, algumas capacidades importantes vão sendo produzidas, organizadas e aprimoradas como: a atenção, a imitação, a memória e a imaginação.
Através destas capacidades, outras, mais elaboradas vão surgindo em prol do desenvolvimento emocional e cognitivo.
A partir de uma brincadeira "boba" , que vem sendo repetida de geração em geração, elabora-se internamente o conceito de presença e ausência de objeto, introduzido por Piaget.
Com certeza você conhece essa brincadeira, pois fizeram com você e você já fez ou faz com seu filho. Por volta dos 6/7 meses costumamos brincar com o bebê de aparecer e desaparecer. Ou escondemos objetos, ou o próprio bebê com uma fralda ou pano, ou atrás de um objeto. Ë o famoso "Cadê ? - Achou !".
Pois é, esta brincadeira simples que os bebês adoram os levam a compreender que um objeto ( pessoas ou inanimado) pode desaparecer momentaneamente e raparecer. Em termos emocionais, esta atividade ajuda a criança a compreender que a ausência da figura materna ou de quem lhe transmite cuidados não significa que desapareceu para sempre e esta aquisição auxilia no desenvolvimento do sentimento de confiança, importante para que a criança estabeleça vínculos.
Além disso, aprender a lidar com a ausência de um objeto é o estágio embrionário da capacidade de abstração, que possibilitará o pensar sobre hipóteses e a resolução de situações - problema.
Outro mito que estes estudiosos nos ajudaram a derrubar, diz respeito à uma visão depreciada da imitação.
É através da imitação que a criança constrói conceitos fundamentais para o desenvolvimento da autonomia. Autonomia emocional, física e cognitiva. É imitando o adulto que a criança aprende a falar, internaliza valores, conceitos e papéis sociais.
O Faz de Conta é outra brincadeira importante para o desenvolvimento infantil.
Vygotsky nos assinalou que uma das funções básicas do brincar é permitir que a criança aprenda a elaborar/ resolver situações conflitantes que vivencia no seu dia a dia.
E para isso, lançará mão de capacidades como a observação, a imitação e a imaginação.
Aproximadamente por volta dos 2 anos e meio tem início as brincadeiras representadas, quando a criança começa a "fazer de conta "que uma vassoura é um cavalo, que um galho de árvore é uma espada, que uma caixa de sapatos é um carro,... . Essas representações "simples" darão lugar à um faz de conta mais elaborado, além de ajudar a criança a compreender situações conflitantes a ajuda à entender e asimilar os papéis sociais que fazem parte de nossa cultura ( o que é ser pai, mãe, filho, professor, jogador de futebol, ... ).
Através desta imitação representativa a criança vai também aprendendo a lidar com regras e normas sociais. Desenvolve a capacidade de interação e aprende a lidar com o limite e para tanto, os jogos com regras são fundamentais, principalmente a partir dos 06 anos aproximadamente.
Brincar na escola é totalmente diferente de brincar em casa.
Na escola, o Professor tem papel fundamental ao intervir de forma intencional no brincar de modo a desenvolver as capacidades infantis.
O brincar na escola é um brincar organizado, onde o tempo e a diversidade das atividades e do material são planejados pela professora, levando-se em conta a faixa etária, interesses e o nível de dsenvolvimento de cada aluno: como o aluno está, o que precisa ainda alcançar e de que forma a Professora poedrá organizar e planejar o brincar a fim de atender os objetivos a serem alcançados. Cabe ainda ressaltar que este planejar deve envolver os aspectos sócio-culturais do grupo social do qual esses alunos fazem parte.
Por tudo isso é que seu filho vai para a escola só para brincar !
Volte um pouco de sua atenção para o brincar do seu filho, surpreenda-se e viva grandes emoções !

* Regina Célia de Souza é Psicóloga, Especialista em Educação Infantil e Mestra em Psicologia. É diretora do Espaço de Formação de Educador Infantil.

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